17/01/2015

Paulo Lemos: "Vida Suburbana"

Estivemos à conversa com Paulo Lemos, autor do livro "Vida Suburbana" e também antigo vocalista e guitarrista da banda açoriana Resposta Simples.



Onde nasceu esta ideia de escrever um livro sobre o punk em Portugal e como lhe deste forma?
Olá pessoal e, antes de mais, muito obrigado pelo vosso apoio e pelo trabalho que têm desenvolvido ao longo destes anos com o 4THEKIDS! A “Vida Suburbana” encontra a sua génese na minha tese de mestrado de Estudos Artísticos, na vertente de Estudos Musicais, da Universidade de Coimbra. Escrevi-a e defendi-a há alguns anos, em 2011 para ser mais preciso, e há algum tempo a Associação Cultural Burra de Milho mostrou-se interessada em editar a dissertação em formato livro, visto esta ter sida a primeira tese sobre o punk em Portugal! Assim sendo, a Burra de Milho realizou um trabalho fantástico, e trabalhámos desta forma em conjunto no sentido de registarmos historicamente uma análise académica e artística deste nosso movimento através da edição do “Vida Suburbana”.

Como foi o processo de escrita do livro?
Sendo a base do livro uma dissertação universitária, o processo de escrita passou por um conjunto de regras académicas. Estas traduzem-se pela leitura de muitos artigos e pela utilização de fontes de outros autores, para comprovar, ou complementar, as ideias que ali defendo. Para além disso, a cargo da recomendação dos meus orientadores, realizei primeiramente uma contextualização ao punk internacional, passando posteriormente pelo movimento nacional e terminando com o caso de estudo da banda punk nacional mais antiga no ativo, os Mata-Ratos.

Em que te baseaste para a escrita e como foi a procura de informação?
Como a existência de bibliografia académica sobre o punk português é praticamente inexistente (à exceção de alguns artigos pontuais sobre determinados grupos ou épocas), tive que basear grande parte da minha pesquisa em papers estrangeiros. Embora as minhas leituras tenham sido complementadas com a leitura de livros como “25 anos de Veneno” e “Censurados Até Morrer”, para além da “A Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX” e “A Arte Eléctrica De Ser Português - 25 Anos de Rock'n Portugal”, procurei analisar o punk de acordo com as ciências sociais da Sociologia, Antropologia e Etnomusicologia.

Paulo Lemos, autor do livro "Vida Suburbana"

Na abordagem ao Punk internacional, de que bandas e que conteúdo podemos esperar?
Abordo o punk internacional de uma forma generalista e dou a conhecer as suas ramificações posteriores. Início assim a sua história com o “proto-punk” onde compreendemos a sua evolução para o conhecido “punk 77”. Para os que desconhecem, e para aqueles que pretendem conhecer um pouco mais sobre os cismas do punk, escrevo sobre as variadíssimas “way of life” do punk, mais concretamente o Oi!, crust, anarco-punk, hardcore, new york city hardcore, hardcore melódico, entre outros. A listagem de bandas é extensa pelo que recomendo a leitura do livro [risos].

Que tipo de abordagem fazes aos Mata-Ratos?
Realizo uma análise biográfica, estética e lírica. Desta forma, conto primeiramente a história dos Mata-Ratos, descortinando de seguida aspectos como o significado do seu nome, estética e público presente nos seus concertos. Para além disso, podemos também compreender o alinhamento da banda com movimentos políticos e encontrar um padrão lírico nos seus álbuns. Por fim, para além de uma análise gráfica às capas dos seus fonogramas, existem variadíssimas reflexões sobre os Mata-Ratos e o seu percurso musical.

Miguel Newton, vocalista da mítica banda Mata-Ratos. Também foi o orientador e co-orientador da tese de mestrado que deu origem ao livro "Vida Suburbana"

Onde podemos comprar e qual o preço a que o livro estará disponível?
Numa primeira fase, já é possível encomendar o livro através do Facebook da Associação Cultural Burra de Milho. De seguida, a editora encontra-se a trabalhar numa distribuição mais extensa, a nível nacional, e nas próximas semanas o “Vida Suburbana” encontrar-se-á à venda em Lisboa, Porto, Coimbra e Castelo Branco. O preço é, na minha opinião, bastante DIY custando 7€ o exemplar. Para além disso, é preciso notarmos que a Burra de Milho, para além de vestir o papel de editora, é uma Associação Cultural sem fins lucrativos.

Sendo tu açoriano, podes falar-nos um pouco do movimento por aí?

O punk açoriano já deu algumas cartadas valentes no panorama nacional! Já tivemos a oportunidade de produzir concertos com Mata-Ratos, Freedoom, Pointing Finger, Get Lost e Fitacola. Foi a primeira vez que estas bandas vieram aos Açores (era então os longínquos anos de 2004 e 2005), num evento que eu e alguns amigos produzíamos: Festival Acção Directa! Para além disso, criámos uma editora, a Impulso Atlântico, e editámos grupos como os Resposta Simples, Fora de Mão, Manifesto, para além da colectânea “Ataque Frontal”, entre outros. Claro que a vida profissional e social leva-nos para outros caminhos e atualmente estes projetos, à exceção de Manifesto, já não existem. Contudo, todos os membros destes grupos, e muitos amigos meus, continuam nos dias hoje culturalmente muito ativos produzindo muita arte na região, não se restringindo apenas ao punk rock. Existem ainda alguns grupos punk terceirenses que continuam a representar, como os Mufasa e agora os Abutre Suicida (ex-Punkrias). Para além disso, a editora Anoise Recs encontra-se sedeada agora na Ilha Terceira. Relativamente a São Miguel, esta Ilha sempre teve uma tradição metal muito forte embora tenham existido alguns grupos punk como os Glicerina e pop-punk como os Skillsaw 4am. Nas outras ilhas, também existem alguns registos pontuais de agrupamentos musicais punk ao longo dos últimos anos.



Resta-nos agradecer ao Paulo pelo tempo que dispensou para nos dar esta entrevista.

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