09/05/2011

No Good Reason


Os No Good Reason já não são uma banda nova. Mas, mediante a falta de oportunidades prévias, algumas perguntas ficaram por fazer. Perante isso:

Almada e, no geral, a Margem Sul do Tejo, é conhecida por um som mais musculado. Uma forte influência do hardcore nova iorquino. Perante este cenário, como é que surgem os No Good Reason? (fazendo um som mais melódico, positivo e “alegre”)

PZ: Não querendo generalizar, quando começámos a ir a concertos back in the days havia um certo boicote por parte da margem sul em relação à margem norte e vice versa. Pessoal da margem sul ouvia maioritariamente bandas da margem sul e pessoal da margem norte bandas da margem norte, daí o som da margem sul nunca ter saído muito dos mesmos moldes. Nós na banda sempre tentámos fugir um pouco a isso e abrimos um pouco os horizontes. Aliás, o objectivo sempre foi fazer algo diferente do que se fazia, não só em Almada como em Portugal.

A banda pareceu, há alguns meses atrás, ter entrado numa espécie de indefinição. Em algum momento pensaram em deixar de tocar como “No Good Reason”?

PZ: Ia estar a mentir se dissesse que não. A banda esteve mesmo para acabar e se bem me lembro houve até um concerto que dissémos para nós próprios que o íamos encarar como o último (isto ainda antes do Gaiola ter entrado na banda), sem nunca anunciar como último concerto. O que é facto é que o concerto correu tão bem e foi tão fixe que decidimos que ainda não era a altura de por o ponto final.

Sentem, da vossa perspectiva enquanto banda, que demorou a ser-vos dado o crédito devido?

PZ: Essa é uma pergunta dificil porque o crédito devido, a meu ver, é as pessoas virem falar contigo no fim do concerto ou depois de ouvir algum som da banda e darem a sua opinião, boa ou má. Nota-se que pelo menos tomaram o tempo para ver se gostavam ou não e que tomaram a atenção suficiente para formar uma opinião. Com a quantidade de bandas que existem nos dias de hoje, alguém perder o seu tempo para definir o que acha de uma banda já não é nada mau. Agora, o que é facto é que os ultimos 4 ou 5 concertos da banda foram incrivelmente mais mexidos e melhores que todos os outros concertos que demos antes, e isso enquadra-se secalhar melhor no crédito devido que tavas a falar. Se assim for, sim. Secalhar 5 anos de banda foi um pouco de tempo a mais até isso acontecer, mas nós também somos uma banda em que tudo anda a passo de caracol.

Com o recente EP “Far Away” a banda recebeu imensos elogios. Os vossos concertos passaram, inclusive, a ser mais participativos. Como viram a recepção do mesmo?

PZ: Penso que a recepção ao disco foi mesmo muito boa e não esperavamos nem metade disto. Toda a gente sabe o quão dificil é vender vinis em Portugal. Nós recebemos 50 discos da Chorus of One e uma semana depois tavamos a pedir mais discos porque os primeiros já tinham voado.. Ficámos um pouco parvos com isto porque a banda, como disseste anteriormente, nunca tinha tido assim muita atenção. Lançámos o disco mais para nós que outra coisa qualquer (quem tem uma banda sabe o que é segurar um vinil da banda em que toca e nós estavamos fartos de CD-R’s) e eu pensava mesmo que iamos ficar com os 50 discos para sempre ahah. Ainda bem que não aconteceu. Lá de fora, vieram opiniões e reviews muito boas, graças ao esforço tremendo o Max da Chorus of One que mandou discos para todo o lado para promover o trabalho. Sabe sempre bem ver o trabalho e esforço reconhecido, ainda para mais quando na opiniao unanime da banda estas são as 4 melhores músicas que escrevemos até hoje.

A banda vai agora entrar num hiato indefinido por razões profissionais. De alguma maneira sentem que isso vem em má altura?

PZ: Por um lado sim, por outro lado não. Vem numa má altura porque a banda estava com pica como nunca esteve antes e estamos todos com vontade de tocar, fazer tours, etc. O lançamento do disco serviu de catapulta para isso e parece ser uma oportunidade única que vamos ter de desperdiçar. Por outro lado, esta paragem vai-nos dar tempo para pensarmos no que queremos fazer com a banda, secalhar compor uma coisa mais à seria (LP?).

Por outro lado, crêem que o mesmo poderá ser, na verdade, benéfico para vós? Isto tendo em conta a influência da experiência no processo artístico.

PZ: Acho que já respondi mais ou menos a isto na questão anterior. Queremos sem duvida gravar mais alguma coisa, e uma paragem vai ser boa para isso. Acontece também que o Ludgero vive no Algarve e está envolvido numa data de bandas, por isso esta banda não lhe consumir tempo com concertos e etc pode abrir algum espaço para compor e gravar algo com mais calma.

Olhando à música “College”, isso tem muito a ver com o passado recente dos vossos membros, não tem? (“emigrações” e assim). Acham que há um, quase total, descrédito dos jovens pela sua própria educação?

PZ: Lembro-me de perguntar ao Bráulio no que ele se tinha inspirado para escrever a letra desta música, pois foi das letras que mais gostei quando ele me mostrou o que tinha escrito para o EP. Respondendo à primeira parte da pergunta, penso que a ver com emigraçoes e isso tem mais a ver a “Far Away”. Esta “College” fala mais sobre esse mesmo descrédito pela própria educação e um pouco o deixa andar que se vê nas escolas e universidades. Há uma parte da música que diz “I don’t get it, kids join school with no interest” em que o Bráulio se baseou numa colega que tinha em aulas de design gráfico que dizia que não gostava de computadores. WTF? Há gente que se mete a estudar sem um minimo interesse por aquilo que estão a fazer, em vez de encarar isso como um periodo da vida para multiplicar conhecimentos e absorver tudo aquilo que se puder. Em relação a esta musica, uma revista alemã escreveu que as letras da banda eram sobre assuntos que não fazem sentido tipo escola e estudar... Para mim, ler isto foi brutal pois deu ainda mais credibilidade à letra e ao que ela diz. É caso para dizer: Estudassem!

Porquê “Tuesdays=Nowhere”? Normalmente as pessoas odeiam as segundas-feiras...

PZ: Segundas? Ou Terças? Epah eu sei o significado do nome da música, mas como o Bráulio é que a escreveu é melhor ser ele a responder.

Bráulio: "Nowhere" é um bar gay-bear em Nova Iorque onde todas terças-feiras o pessoal dentro da onda punk-hardcore se reune e passam apenas discos punk/post-punk entre os 70's e 80's. A letra, apesar das várias interpretações que possa ter, foi escrita tendo como pano de fundo uma amizade entre dois míudos do hardcore que finalmente encontram numa nova cidade um grupo de amigos não só com o punk-hardcore-diy em comum, mas também com vivências de que de alguma maneira foram difíceis de lidar numa cena que apesar de tudo continua algo machista e por vezes até mesmo xenófoba.

Vocês são igualmente conhecidos, por incluírem um número considerável de covers nos vossos sets. Qual é a vossa opinião das covers? Já não teriam músicas suficientes para fazerem um set exclusivo vosso, ou gostam de prestar tributo a bandas de que gostam?

PZ: Somos conhecidos por isso? Ahah. Nós começámos por tocar algumas covers porque já que ninguem se mexia nos nossos sons, mexessem-se nas covers. Eu gosto de ver bandas a tocar covers, dá sempre um bom toque ao concerto e não vejo muito mal nisso. As covers que tocámos (e acho que me consigo lembrar de todas) foram sempre de bandas que nos diziam alguma coisa e que secalhar andam um pouco esquecidas por quem ouve hardcore hoje em dia. Tocámos várias vezes a “New Child” de X-Acto e ficou tudo a anhar, covers de Black Flag nem sempre as pessoas reconheciam o que se estava a tocar, “A Time We’ll Remember” de Youth of Today a mesma coisa... Sim, secalhar com as musicas que temos já conseguíamos construir um bom set sem recorrer a covers, mas o que é facto é que 80% das musicas pre-EP já não as tocamos ao vivo porque já não as sentimos como sentíamos antes, por isso acabamos por ter de tocar algumas covers sempre.

Para finalizar, deixo-vos aqui o espaço que acharem necessário para algum tipo de consideração, agradecimento ou, simplesmente, dizer aquilo que acharem conveniente.

Obrigado pelo interesse que demonstraram na banda ao pedirem-nos para responder a esta entrevista. Sempre achámos essencial o trabalho que têm feito na 4 The Kids, não deixem isto morrer. Um obrigado também a toda a gente que apoia a banda e a todos os amigos que fizemos com a banda, especialmente aos Step Back, Shape, DOTD (RIP) e Decreto 77. Apoiem as bandas portuguesas que estão no início, Cold Blooded, Skrotes, e tantas outras. Peace.

Ao 4theKids, resta-nos agradecer a atenção disponibilizada pelos No Good Reason, desejando a todos os membros a melhor sorte pessoal e profissionalmente.

www.myspace.com/nogoodreasonhc


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