13/05/2011

LIFEDECEIVER

O 4theKids esteve à conversa com o guitarrista dos LIFEDECEIVER, Bruno Russo. Este foi o resultado da entrevista.

Há, sensivelmente, dois anos, os LIFEDECEIVER eram uma banda nova que nos concedia a sua primeira (?) entrevista. Dois anos volvidos, sentem que ganharam mais, ou perderam mais enquanto banda?

Obviamente que sentimos que ganhámos, nem que tenha sido maturidade. Acho que, quando as bandas começam a perder algo, e não conseguem compensar essa perda com algo de bom, mais vale acabarem. Somos uma banda com os pés bem acentes na terra, daí termos feito um pequeno hiatus no meio destes dois anos de banda.

Esse hiatus serviu para reorganizarem a banda, portanto. Como se aperceberam dessa necessidade?

Não querendo tirar mérito ao Pedro Romano e ao Tiago Plácido, nós queriamos evoluír tecnicamente e, quando a música / banda não se trata de uma das prioridades de alguns elementos, tem de se tomar medidas. Mas respondendo à pergunta, apercebemo-nos dessa necessidade quando sentimos que precisávamos de alguém mais experiente para nos acompanhar no rumo que queríamos seguir.

A própria estrutura da banda também se alterou, entrando novos membros. Fala-nos sobre essas alterações.

Em seguimento do que disse na primeira pergunta, nós somos uma banda com os pés bem acentes na terra e chegámos à conclusão que precisávamos de mudar a formação. Queríamos alguém com mais experiência e versatilidade no mundo da música. Foi por isso que surgiu o interesse pelo João (Bateria) que é um músico bastante experiente e versátil que nos ajudou bastante a evoluír. Quanto ao Nuno (Baixo), é um amigo de longa data que sempre nos acompanhou desde os primeiros ensaios e a nossa escolha para ocupar o lugar deixado não podia ser mais óbvia.

O vosso novo baterista é, também, membro dos Utopium. Como chegaram à conclusão que ele era a pessoa indicada para tal, sendo que Utopium não será necessariamente um habitué nos concertos de hardcore?

O João já acompanhava por fora o nosso projecto desde as primeiras 'passadas' e, tal como disse anteriormente, é um músico muito versátil e cujos gostos musicais também vão ao encontro dos nossos e ao som que practicamos. Daí a escolha óbvia. Bateristas também não é o que mais se encontra por aí em Portugal e, sinceramente, nós preferimos ter alguém que se dedique e mostre provas do seu valor a tocar ao nosso lado. Só para teres noção no primeiro ensaio com o João tocámos tudo quase à primeira. Foi amor à primeira vista (risos)

Já na altura da primeira entrevista, consideravas como grandes influências bandas como Integrity ou Electric Wizard. Atendendo a concertos recentes, essas influências estão mais vivas do que nunca, certo? Que mais vos influencia no processo de criação?

Certo. Nós não temos um processo base de criação de músicas, também não é o que sai à primeira, atenção! Também não nos juntamos na sala de ensaios e dizemos 'ah, baza fazer uma cena tipo isto ou aquilo'. O nosso objectivo base no processo de criação sempre foi a originalidade; no entanto, é normal que os nossos gostos pessoais se reflictam na música que tocamos. Nós somos 4 e, todos nós, ouvimos cenas diferentes uns dos outros, embora haja gostos em comum. Integrity e Electric Wizard são bons exemplos disso.

Algo mais para além de música, como influencia?

Como acho que já deu para perceber, nós somos uma banda um bocado conceptual. Não vou massacrar-vos a falar do que está e não está mal nos dias de hoje, porque isso já está muito batido. Mas tudo o que é negativo acaba por nos influenciar, acabando por ser o nosso escape. Gostamos de abordar - utilizando metáforas - temas como o oculto, a falsidade e a merda que o ser humano e o mundo são. Tal como uma letra nossa diz “I TRY AND TRY TO LOVE THIS WORLD, BUT HOW CAN I LOVE SOMETHING THAT SPITS ON ME?”.

A banda prepara-se para lançar um split com Utopium, como surgiu essa ideia? O artowork já circula por aí, certo?

A ideia surgiu naturalmente. Nós tinhamos 4 temas 'arrumados' na gaveta há mais de um ano - podem ouvi-los no facebook - e quando decidimos convidar os Utopium para fazer um split connosco, eles encontravam-se a gravar album. Juntando o útil ao agradavel, seleccionaram 3 temas pra colaborarem connosco no split, que sairá em vynil. Por outro lado, também quisemos fazer uma cena diferente, daí as duas bandas terem sonoridades distintas uma da outra, mas com ideias iguais. O artwork foi hoje divulgado para abrir um bocado o apetite.

O artwork, como grande parte do vosso merch, é também da autoria do Mike (vocalista)?

Exacto.

Para além desse split, que outros projectos têm em mente para o futuro? Ainda ambicionas “juntar os teus companheiros de Never Fail e os de Lifedeceiver numa carrinha e andar a tocar pela Europa duas vezes por dia até ficar sem dedos”?

Para além do split, vamos gravar um EP conceptual ainda este ano. Tirando isso, pretendemos espalhar a nossa música por vários estilos e concertos. Desde o Hardcore ao Metal. Quanto à tour, acho que é o que qualquer banda ambiciona mas tudo a seu tempo. acho que não faz grande sentido fazer uma tour sem ter um nível minimamente aceitável de projecção.

Queres desvendar um pouco sobre esse EP conceptual?

Não há grande coisa a desvendar, alguns temas já são tocados ao vivo mas que, para o EP, vão receber “tratamento” especial. Podem esperar algo diferente do que já foi feito por cá.

Mas qual é o conceito por detrás desse EP?

Tudo a seu tempo.

Há uma certa ideia dos LIFEDECEIVER serem um pouco “too metal for hardcore, too hardcore for metal”, não achas? Isso de certa maneira vos limita?

Isso até me dá um certo gozo mas, por acaso, temos tido boa recepção por parte do público metaleiro. Tal como disse anteriormente, nós queremos tocar para todo o tipo de pessoal. Porque o publico do metal é mais abrangente, daí haverem vários subgéneros. O público hardcore não é muito receptivo a projectos diferentes, a não ser que sejas alguém “conhecido”, porque aí já gostam todos do teu side-project e dizem que é muito bom.

Quando é que vemos a banda dentro de um dos grandes festivais nacionais? Mais alternativos, metal e assim, claro.

Embora não seja grande, mas que é um festival que certamente vai crescer, vamos tocar no Metal Gate na Marinha grande juntamente com os WAKO, SWITCHTENSE, PRAYERS OF SANITY, HILLS HAVE EYES, MY CUBIC EMOTION, entre outros. Quanto a festivais grandes, recebemos um convite para tocarnos na edição de um festival grande de metal no próximo ano, mas não faz sentido dizer qua é agora. Principalmente, porque os festivais também seguem uma linha de divulgação de nomes. Por outro lado, até ao próximo ano muita coisa pode acontecer.

Dizias-me um dia que sentes que a banda tem a sua fanbase na zona de Pombal. Alguma explicação para tal?

Sinceramente, até eu gostava de perceber esse “fenómeno”! Mas a gente daquela terra tem muito valor porque, hoje em dia, Pombal é um ponto de passagem para qualquer banda nacional que queira fazer uma tour por cá. São pessoas humildes e receptivas, que trabalham muito bem e sabem fazer as coisas como deve ser! Posso dizer que o nosso melhor show (a nível de público) foi em Pombal. Para uma banda como nós, tocar para 120 pessoas, (+-) sendo nós a banda headliner, foi algo muito gratificante. No nosso facebook temos alguns videos dessa actuação.

Por outro lado, sentem que, exceptuando em Pombal, o pessoal não vos dá o crédito devido e merecido?

Nada disso. Ainda que gostasse que as pessoas tivessem menos palas nos olhos, mas no fundo todos temos um bocado, não é? Não me posso queixar da receptividade que temos tido nesta ultima vaga de concertos. Por exemplo, em abril tocámos em lafões como support act de Before The Torn e éramos a primeira banda. A sala já estava composta quando estávamos a tocar e não estávamos à espera disso. Estávamos algo deslocados do cartaz mas tivemos uma boa recepção. No hardcore, não se vê isso. E eu, pessoalmente, sou adepto de cartazes com variedade de estilos, acho que é uma mais valia para todos.


Num cômputo mais geral, achas que há uma crise de valores no hardcore nacional?

Sinceramente, esse tema já me enjoa nem faz muito sentido responder a isso porque não nos vejo como uma banda Hardcore. Mas aproveito para deixar a minha opinião do que tenho vindo a assistir nos ultimos tempos. Hoje em dia julgasse muito a aparência e os 'conhecimentos' que se tem no meio e isso mete-me nojo. As pessoas gostam da banda X porque tem o Y da banda Z, aparecem putos novos já com a indumentária certa só para se inserirem mais facilmente. Isso para mim não faz sentido, daí eu também me ter afastado um bocado do meio e ter passado a prestar atenção a outros estilos e meios musicais. Não desisti do Hardcore, mas sim das pessoas do Hardcore mas tendo em conta que as pessoas é que fazem o Hardcore acho que se compreende o meu afastamento da 'cena'. Queria acrescentar que esta resposta é minha e não em nome de LIFEDECEIVER.

Reservo-te agora o direito para usares este espaço como teu, dizendo o que te vai na alma.

Queria agradecer-vos pela oportunidade de nos darem a conhecer e também referenciar umas bandas que andam aí que deviam ouvir : Local Trap, Knives Out, Utopium, Dont Disturb My Circles, Alchemist, Adic Season e Goatfukk! O underground está de boa saúde e recomenda-se!


Ao 4theKids só nos resta agradecer a disponibilidade do Bruno na realização desta entrevista e desejar-lhe a ele e à banda a melhor das sortes.





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